domingo, 31 de outubro de 2021

Eu, o Pilha e a Flor… (Ah!, tá bom: Eu, o Pilha e a Branquela Burra) - parte 5: metade final do EPÍLOGO


Oi, tia. Eu sou o Pilha. 

Eu sei que tu não tá acostumada a me ouvir contar histórias. É sempre meu amigo que conta nossas histórias. Mas hoje, eu que quero contar. 

Eu não sei o nome dele. No dia que ele chegou na minha sinaleira, eu perguntei o nome e ele não sabia. Eu perguntei como a mãe dele chamava ele. Eu não perguntei como o pai dele chamava, porque quem vai pra sinaleira pedir pros ricos, nunca tem pai. Ele me falou que a mãe dele chama de “estrupício”, de “peste”, de “moleque”… Mas eu não ia chamar assim. Daí, teve uma vez que eu disse pra ele: “deixa de ser mané!”. E ele ficou parado, olhando com cara de bobo. Daí, meio que pegou. 

Quando ele chegou na minha sinaleira, ele era muuuuuuuito mané. Não sabia nada. E ele era muito pequeno, não chegava na metade da altura das portas dos carros dos ricos. Eu tive que ensinar tudo pra ele. Eu lembro que ele nunca tinha andado de carro, e daí, eu ensinei como fazer pra ele conseguir. Ele disse que ficou tonto, que foi esquisito, porque ele que ficava parado e o mundo que passava correndo*. E eu quase morri de rir, no dia que levei ele pela primeira vez num elevador. Ele achou que tinha morrido e só ficava gritando que não queria ficar morrido, que queria desmorrer**. 

Ele fala muito. Fica o tempo todo falando. Ele fica repetindo “Pilha, lembra aquela vez…”, “Pilha, e aquela outra vez que a gente…”. Quando ele já contou muito todas as histórias que lembra, ele inventa uns jeitos diferentes de contar: “Ei, Pilha, já pensou se naquele dia que a gente fugiu do hospital, um rico parasse e nos desse carona? Pra onde tu ia querer que ele nos levasse? Ja pensou se ele nos levasse no Mac Donalds? Eu ia comer uns…”

Eu não gosto muito quando o mané inventa histórias. Porque ele é muito sem noção.

Outro dia, ele foi direto brincar com uns carrinhos que uns meninos ricos tinham deixado na caixa de areia do parquinho***. Ele acha que rico é como a gente. Pra nós, só é da gente o que a gente tá usando, enquanto a gente tá usando. Se a gente larga alguma coisa na rua, e outro pega, o outro que fica dono. É igual a nossa sinaleira. Se a gente não chega cedo e outro pega, é do outro, a gente perde o ponto. Rico não. Se ele larga um brinquedo, o brinquedo ainda é dele, e mesmo que ele não fique brincando toda hora, ninguém pode pegar um pouco. Então, quando ele começa a inventar histórias, é tudo sem noção. E eu tenho medo, porque ele começa a falar coisas que não existem, ou que a gente nunca vai fazer, e daí, depois, ele fica achando que a gente tinha que conseguir alguma coisa parecida com as histórias que ele inventa, e ele fica com raiva.

Um dia ele inventou uma história que a gente tinha três roupas. Ficou o dia todo falando das três roupas e que a gente podia trocar, e que elas não sujavam. Daí, no fim do dia, ele tava todo triste, porque a gente só tem uma roupa, e usa o tempo todo, e quando a gente tava indo embora do parquinho, ele disse que queria ter três roupas. E onde a gente ia guardar três roupas? Se ele tivesse duas, a mãe dele já ia vender uma pra comprar as pedras. 

Então, eu tenho que ficar de olho nele, e ir ensinando as coisas. 

Agora, ele anda mais quieto. Eu sei que ele ficou brabo comigo. E eu sei que foi por causa da Clarinha. Ele acha que ela vai me roubar dele e a gente vai deixar de ser amigo. Eu nunca vou deixar de ser amigo dele. E eu sei que a Clarinha é rica, vive no mundo dos ricos. E eu nem sei o que deu em mim, pra ir falar com ela. Mas ela é tão bonita. 

Depois que o São Jorge salvou a gente duas vezes****, a gente foi numa festa da Igreja que tem o nome dele, lá no final da rua com o rio no meio. E lá tem um vidro pintado com o São Jorge matando um dragão. Eu acho tão bonito, é tão colorido. E daí, eu já fui lá com o mané, um montão de vezes, só pra ver aquele vidro. Eu sei que a pintura não é minha. E eu não quero pra mim. Eu só gosto de ir lá e ficar olhando. E quando vou lá, o Padre não fica dizendo pra gente ir embora. E teve uma vez, que ele até deu um copo de leite bem quentinho pra nós dois e disse que a gente podia sempre voltar pra ver o vidro.

Eu acho que com a Clarinha é assim: uma sensação parecida de olhar o vidro do São Jorge, tomando leite quente num copo limpo! Só que é muito mais forte. Quando ela vai no parquinho, dá vontade de ir lá perto e até falar com ela. Quem leva ela no parquinho é a Tetê. Eu já conhecia a Tetê, porque ela já namorou meu irmão, antes de prenderem ele. A Tetê fica de olho, de longe, mas pelo menos não fica mandando eu sair de perto da Clarinha. A Clarinha não é como as outras crianças ricas. Ela não gosta que joguem pedrinhas no Uálquim. E também grita com outros garotos ricos quando eles correm atrás do cachorro de pata torta do velho “Muleta”. Eu acho que a Clarinha nasceu errado. Não era pra ela ser rica. Porque ela nem pensa igual os ricos!

O mané tá com muita raiva da Clarinha, porque naquele dia, ela disse que não me conhecia, e o bigodudo que tava dirigindo jogou ele no chão. E o mané disse que a Clarinha é uma mentirosa porque falou que ele era assaltante e depois disse que não conhecia a gente. E depois de tudo, o mané achou que eu poderia estar com raiva dele. 

Sabe… eu não fiquei com raiva. Eu não sei explicar. Acho que eu tava mais preocupado com a raiva do mané. Ele disse que tava com raiva de Deus, e eu fiquei preocupado. E eu tava preocupado com a Clarinha.

Sabe tia, eu não fiquei brabo com a Clarinha quando ela olhou pra mim, e disse para a mãe dela que não me conhecia. Eu acho que naquela hora, eu fiquei feliz demais com a Clarinha. Eu não sei explicar, tia, mas eu vi que a boca disse que não me conhecia, e os olhos da Clarinha diziam outra coisa. Foi por isso que ela olhou nos meus olhos. Não foi pra mentir na minha cara. Foi pra falar comigo com os olhos, enquanto a boca falava com a mãe dela. Então eu vi que ela nasceu errado mesmo.

O mané não entende, acho que ele é muito pequeno. E ele tá com raiva, então eu também sei que não adianta eu querer explicar pra ele, porque quando a gente tá com raiva, a gente só ouve o que quer. Mas eu sei, que se a Clarinha dissesse que me conhecia, ela nunca mais ia poder me ver. Nem ir no parquinho.

Tia… se ela disse pra mãe dela que não me conhecia… bom… tia…

… a Clarinha gosta de mim!

(FIM)


*Vide Eu e o Pilha

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**Vide Eu, o Pilha e a Caixa Mágica

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***Vide Eu, o Pilha e os Brinquedos de Deus

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****Vide Eu, o Pilha e os 35 Pilas. Vide também, Um Conto do Pilha

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Luís Augusto Menna Barreto

31 de outubro de 2021

domingo, 24 de outubro de 2021

Eu, o Pilha e a Flor… (Ah!, tá bom: Eu, o Pilha e a Branquela Burra) - parte 4: primeira metade do EPÍLOGO



Essa escola é melhor! Eu fiquei feliz quando a mamãe teve que mudar de cidade por causa do trabalho. Eu não gostava daquela escola só de meninas. A gente nem podia brincar direito, que logo vinha uma professora dizer que meninas não podem se comportar assim! 

Eu já estudei em muitas escolas. Teve um ano, que foram três escolas diferentes. Uma delas foi muito ruim, porque eu não entendia nada. Falavam outra língua, que não era nem o inglês que eu sei um pouco. Era uma cidade bonita, em que passavam navios maiores que uma montanha, e a mamãe falou que eles vão de um oceano para outro bem pertinho da cidade! Eu não sei direito o que a mamãe faz, mas ela trabalha muito. Tem dias que nem vejo ela. Ela nunca tem tempo de brincar. Deve ser triste nunca ter tempo de brincar. Ela sempre me diz que ela trabalha por minha causa, pra garantir meu futuro. Eu acho que esse tal futuro deve ser horrível, eu tenho muito medo. Porque em toda cidade nova que a gente chega, mamãe me coloca em aula de inglês, piano, natação, e tênis. E diz que tudo isso é para eu estar preparada para o futuro. Será que nesse futuro, só pode entrar quem souber tudo isso? Eu não gosto de piano, mas eu me esforço, porque tenho medo de não aprender e não conseguir ir para o futuro. Daí, eu também quase não tenho tempo de brincar. Quem cuida de mim, agora, é a Tetê. E tem o “Rúlio”, mas que escreve com “jota”, que dirige o carro. Ele e a Tetê que me levam em todos os lugares que mamãe diz que tenho que ir. O “Rúlio” está com a gente desde a cidade dos navios gigantes. A Tetê, cuida de mim há pouco tempo. Desde que chegamos nessa cidade. Eu gostei da Tetê. E acho que o “Rúlio" também gostou, porque eu já vi eles brincando juntos. Teve um dia que eu saí da aula de inglês e quando fui para o carro, eles estavam brincando tanto que o carro tava balançando, e eu tive que bater várias vezes na porta pra eles abrirem pra mim!

Na minha escola nova, eu posso usar bermudas. É melhor que saia. E eu já consegui arrumar dois amiguinhos. Bom, pelo menos eu acho que consegui dois, porque um deles não sabe falar direito. Eu achava ele estranho. Um "estranho legal", mas agora eu já me acostumei. 

Quando eu vi eles na primeira vez, foi no recreio. Um estava abaixado bem no meio do caminho de pedras por cima da grama. E ele parecia brigar com quem chegava perto. Ele só olhava brabo e fazia “hum-hum”. E não se levantava de jeito nenhum. Até que o garoto “estranho legal” chegou perto e começou a falar para outros meninos que estavam correndo por ali, para passarem por outro lado. Uns até empurraram o “estranho legal”, mas acho que ele conseguiu convencer que passassem por outro lado. Daí, ele foi buscar água num copinho e deu para o que estava abaixado. Quando tocou o sinal do fim do recreio, e todas as crianças começaram a ir para a aula, o que estava abaixado deixou o copinho vazio no chão e foi. O “estranho legal” esperou e juntou o copinho. Daí eu fui lá falar com ele:

— Oi, eu sou a Clara. Mas pode me chamar de Clarinha. O que o teu amigo tava fazendo?

Ele me olhou e ficou todo vermelho. E ele gaguejava. Até hoje, mesmo ele já sendo meu amigo, ele sempre fica vermelho perto de mim. Por isso que eu acho ele estranho! O outro não é assim, não fica vermelho!

— Oi… eu… é… o Kadu? Ah… ele… ele… e-ele tá cuidando daquele plantinha ali, óh!

Era uma flor. E estava quebrada. 

Nos outros dias, sempre o Kadu e o “estranho legal” ficavam ali na hora do recreio.  E eu comecei a ficar com eles. Tinha um canteiro de flores perto do caminho das pedras, e várias crianças jogam bola ali perto, no recreio e acabam machucando as flores. 

Daí, um dia, quando a gente tava no recreio, um menino chutou a bola errado, e ela foi direto no canteiro de flores. Foi tão forte que chegou a quebrar e arrancar uma. O Kadu correu pra lá e pegou a florzinha arrancada. Daí ele me entregou a flor e falou com aquele jeito de artista, olhando pra outro lado, enquanto falava:

— Leva. Cuida. Planta ela.

Eu meio que fiquei sem saber o que fazer, mas daí, quando saí da escola, falei pra Tetê o que tinha acontecido e que queria plantar a flor. A mamãe estava viajando a trabalho e eu tinha aula de inglês e natação. Mas a Tetê disse que se eu não contasse pra mamãe, ela deixava eu matar a aula de natação e me levava numa praça que tinha canteiro de flores que eu poderia plantar, e daí, a gente chegaria mais cedo em casa e ela iria no cinema com o “Rúlio”, mas eu também não podia contar isso para a mamãe. 

Eu fiquei muito feliz, porque a mamãe nunca me levava para brincar e sempre arrumava tanta coisa pra eu fazer, que eu nunca ia em nenhuma praça. Quando chegamos, a Tetê disse que eu podia brincar um pouco, e ela ia ficar com o “Rúlio" no carro. Eu adorei. Tava cheio de crianças. Tinha criança no balanço, na gangorra, no escorregador… até em cima de uma árvore, eu vi dois meninos. Mas eu tinha que cuidar da flor antes de brincar. Então eu fui num canteiro de flores bem perto do parquinho, pra tentar plantar de novo a flor que o Kadu me deu. Eu levei o maior sustão, porque quando eu me abaixei, um cachorro com uma pata torta saiu correndo do meio das flores. Eu acho que ele estava escondido ali e também se assustou. Daí, uns garotos viram e saíram atrás do cachorro, jogando umas pedrinhas nele, mas ele correu e se enfiou em um arbusto perto de um banco onde tinha um velho sentado e o velho ralhou com os garotos. Então, eles deixaram o cachorro em paz e voltaram para os brinquedos. E foi só nessa hora, que eu lembrei que eu não sei como cuidar de uma flor. Nunca morei em casa, pra ter pátio e flores. A mamãe disse que prefere apartamentos, porque como ela viaja muito, ela diz que é só fechar uma porta e pronto, e que casa dá muito trabalho.

Bom, mas as flores todas vem do chão, né?! Daí, eu fiz um buraquinho no chão, perto de outras, e coloquei ela ali dentro, igual a gente coloca num vaso. Depois, eu fui brincar um pouco no balanço. Quando a Tetê me chamou e eu já tava entrando no carro, eu vi quando um dos dois garotos desceu da árvore e foi até o canteiro.

No outro dia, na escola, eu contei para meus dois amigos, que tinha plantado a flor no canteiro da praça. O Kadu sorriu e correu para o canteiro da escola e pegou outra flor quebrada e me deu:

— Planta! Hum-hum. Planta!

Daí, Eu peguei a flor de novo. E eu pedi pra Tetê me levar na praça outra vez. Ela fez eu prometer que eu não ia contar para a mamãe que ela iria sair mais cedo, e nem que eu tava indo na praça. Quando cheguei lá, depois da aula de inglês, fui correndo ver a flor! E tava linda! Nem parecia a flor que eu tinha plantado! Tinha sarado o machucado do caule, nem tava mais quebrado, e o buraquinho que eu tinha feito, tava todo tapado com terra em volta dela! 

Eu fiquei super feliz. Só não conseguia entender direito. Daí, eu ouvi, parecia uma risada dessas que a gente dá quando tá feliz, e fiquei procurando quem era. E vi os garotos da árvore, que estavam lá de novo. O menor, que estava no galho mais baixo estava sério, mas o garoto que tava bem no alto da árvore, tava sorrindo! E ele tava olhando bem pra mim, eu acho. Então, eu vi as mãos dele todas sujas de terra. E eu fiquei desconfiada… será que foi ele quem arrumou a florzinha que eu tinha plantado? Então, eu peguei a outra florzinha machucada que o Kadu tinha encontrado, e fiz outro buraquinho bem perto da que eu já tinha plantado. E eu olhei bem pra ela, quase querendo decorar como ela era. Porque eu queria descobrir se eu que sabia plantar, ou era aquele menino da árvore.

Quando a gente chegou em casa, levei um susto, porque a mamãe já estava! A Tetê nem pode sair mais cedo com o “Rúlio”. Mas a mamãe nem percebeu, eu acho, que eu tinha chegado, porque ela estava em uma chamada de vídeo pelo MacBook e ao mesmo tempo digitava no celular. Quando eu já estava na cama, ela apareceu no quarto para me dar um beijo de boa noite, e disse que iria me pegar na escola para almoçarmos juntas.

— Oba! Vamos comer hambúrgueres, mamãe?

— Lógico que não, Clara! Vamos em um maravilhoso restaurante que a tia Bella indicou, que fica na estrada. Mas eu tenho certeza que você vai adorar!

Daí, no dia seguinte, a mamãe estava esperando na saída da escola e fomos. Agora, com essa doença que faz a gente usar máscaras, a gente anda com os vidros do carro um pouco abertos. Eu gosto muito mais quando os vidros estão abertos e entra vento. Mas quando a gente tava parando em uma sinaleira, a mamãe mandou o “Rúlio" fechar os vidros.

— Feche os vidros Julio! Ah que coisa! Pessoas decentes não podem mais nem andar tranquilas que esses delinquentes já vem querer assaltar ou pedir esmolas! Clara, nem olhes para eles! Eles querem assaltar ou pedir dinheiro para comprar coisas que fazem mal! Jamais deixe um desses mendigos chegar perto de ti, Clara! São pequenos bandidinhos! 

Eu fiquei curiosa e virei a cabeça pra ver. Mas a mamãe me xingou:

— Clara, eu mandei tu não olhares! Eu não te quero nem olhando para esses marginais, ouviste? Eles são assaltantes! 

— Sim, mamãe!

Eu queria olhar mais. Mas eu sabia que não podia. 

A mamãe viajou de novo no outro dia, e, na escola, o Kadu e o “estranho legal” todos os dias entregavam uma flor machucada arrancada dos canteiros da escola, para eu plantar no parquinho. E teve um dia que o garoto do galho mais alto desceu e veio falar comigo. O garoto menor ficou no galho.

Quando o garoto chegou perto, meu coração parece que ia sair pela boca, porque ele parecia com os meninos do sinal, que a mamãe diz que são bandidinhos. Mas as mãos dele estavam sujas de terra, e eu achava que era ele que estava salvando as flores que eu trazia. Daí, eu fiquei assustada, mas fiquei ali. 

— Oi. Quer que eu te ensine como plantar?

A roupa dele era toda suja, mas a máscara era novinha. E mesmo de máscara, parecia que dava pra ver que ele estava sorrindo. E bandido é brabo, bandido não sorri, né?! Então, eu fiz que sim com a cabeça.




— Eu sou o Pilha. E tu?

— Clarinha.

— Oi Clarinha.

Ele se abaixou e começou a cavar com as mãos.

— Toma. Pode usar as minhas pazinhas.

Ele me olhou e parecia um sorriso. Pegou uma das pazinhas e disse:

— Tu pega a outra e faz como eu.

Daí, depois daquele dia, todos os dias, o Pilha ensinava como plantar. 

Até que chegou o dia que a mamãe foi me levar no restaurante do amigo da tia Bella de novo. A mamãe estava enviando mensagem pelo celular e não viu que a gente tava chegando no sinal que tinha uns assaltantes. Daí, quando o “Rúlio" parou na sinaleira, um deles colocou as mãos no vidro e eu fiquei muito assustada, porque a mamãe sempre falava que eles iriam assaltar. E eu gritei. Então, o “Rulio" abriu um pouco a porta e segurou o menino pelo braço e jogou pra longe do carro. Mas chegou outro e empurrou a porta que o “Rúlio’' abriu. E esse outro, era o Pilha, o meu amigo!

— Pilha?

E o Pilha gritou:

— Ele não é ladrão! É meu amigo!

E eu acho que a mamãe ouviu eu falar o nome dele, porque ela me olhou furiosa e perguntou:

— Clara, tu conheces esses mendigos?

Quando a mamãe perguntou, o Pilha me viu e sorriu. E eu fiz a coisa mais feia que já fiz até hoje. Eu fiquei com medo de dizer para a mamãe que eu conhecia eles, porque daí, ela ia descobrir tudo: que eu não estava indo nas aulas de natação, que eu estava indo no parquinho, que a Tetê e o “Rúlio" me ajudavam a ir no parquinho… E eu sei que eu ia ganhar um castigo muito grande e que a mamãe iria despedir o “Rúlio" e a Tetê, e eu nunca mais iria ver o Pilha. 

Meu coração ficou tão apertado, que parecia que tinha uma coisa esmagando ele… daí eu falei:

— Claro que não, mamãe.

(Continua na semana que vem, na segunda metade do EPÍLOGO).


Luís Augusto Menna Barreto

24 de outubro de 2021

domingo, 17 de outubro de 2021

Eu, o Pilha e a Flor… (Ah!, tá bom: Eu, o Pilha e a Branquela Burra) - parte 3

 

Eu caí e ralei a bunda, quando o motorista do carro da branquela me jogou no chão. Fiquei com muita raiva de tudo: da branquela, do chão tão quente queimando a minha bunda, dos carros dos ricos, de terem achado que sou ladrão, de terem me chamado de mendigo… raiva do Pilha ter se metido com essa branquela. 

Eu fiquei com vontade de gritar pro Pilha: “eu não disse? Não te avisei? Quem é o mané, agora?”

Mas acho que o que eu tava com mais raiva era de ver o Pilha ali, triste, parado, olhando o carro da branquela ir embora. Daí, eu não disse nada pra ele. Só levantei e fiquei do lado. Eu não sou esperto como o Pilha, que sempre sabe o que dizer. Mas mesmo não sendo esperto, eu sei que tem vezes que o melhor é não dizer nada e só ficar do lado do amigo. Mesmo se a gente tiver com raiva que sabe que vai passar.

Ele esperou o carro desaparecer. Fiquei com medo do Pilha brigar comigo, porque se eu não tivesse me pendurado no vidro, nada disso ia acontecer, e a gente nem ia saber que a branquela tava naquele carro. Pelo menos o Pilha viu que ela é uma mentirosa. Meu coração ficou rapidão quando o Pilha se virou pra mim. Se ele brigasse comigo, eu ia falar pra ele tudo o que eu acho daquela metida. Azar se ele ficasse brabo! Mas ele não brigou:

— Machucou, mané?

— Não… Pilha, tu não tá brabo comigo?

— Não.

— Tu não tá com raiva, Pilha?

— Não sei… raiva do quê?

— Caramba, Pilha! De tudo!

— Não sei. Tu tá?

— Eu tô, Pilha! Claro que eu tô! — Eu gritei e comecei a chorar. Não sei de onde vinha esse choro, mas parecia que tava preso na minha garganta. Eu não aguentei e gritei tudo pro Pilha. — Tô com raiva da gente nunca ter nada, tô com raiva da gente nunca poder nem brincar com as outras crianças do parquinho. To com raiva dos ricos que sempre acham que a gente quer roubar. Tô com raiva de ti, porque tu só quis saber da branquela burra. Tô com raiva dessa vida, Pilha… tô com raiva de Deus! 

Eu tava chorando muito. Mas quando eu disse que tava com raiva de Deus, o Pilha parou na minha frente e colocou a mão no meu ombro. Ele nunca faz isso. Ele não gosta de encostar em ninguém, ainda mais depois que o “Desbravado" pegou ele*. Naquele tempo, eu não entendi o que o “Desbravado" fazia. Agora eu sei que o Pilha não gosta de encostar em gente porque foi “estrupado”. Mas ele botou a mão no meu ombro, e olhou direto pra mim. Eu ainda tava chorando de raiva.

— Mané, quem tu tem? 

Eu não entendi. Fiquei passando a mão no olho, pra limpar o choro. O Pilha insistiu:

— Quem tu tem?

Eu nem conseguia falar. Tava soluçando, depois de ter gritado tudo que eu tava com raiva. Daí, o Pilha falou:

— A gente só tem a gente, mané! A gente tem que ser amigo até morrer! Tua mãe não cuida de ti. Ela só quer que tu leve os 8 pilas todos os dias. Tua mana é bebê, e assim que crescer tua mãe vai botar ela na sinaleira também. O meu irmão tá preso. A gente só tem a gente. E por a gente, só tem Deus. Se a gente brigar com Ele, quem vai cuidar de nós, mané?

— Tu. 

Era o Pilha que tinha que cuidar. Era o Pilha que sempre cuidava da gente. E quando eu falei isso, o Pilha ficou olhando pra mim, um pouco. Daí, ele sorriu. Mas foi diferente. Parecia que a boca tava pesada. Mas ele sorriu mesmo assim:

— Então bora limpar esse choro, que rico não gosta de ver criança chorando. Daí que ninguém abaixa o vidro. Bora sorrir pros ricos e vamos trabalhar até a gente ficar rico, hoje!

— Nós não vamos no parquinho?

— Hoje não, mané. 

Passou um monte de dias sem que a gente fosse no parquinho. Ficamos na sinaleira direto. O Pilha parecia não cansar. Mas eu via como ele parecia triste. Até que chegou o dia de nome redondo, o dia que a banca de revista não abre e que o Pilha nunca vinha, ele veio. Eu levei um susto, fiquei super feliz. 

— Bora no parquinho, mané!

Eu nem perguntei nada e fui com ele. Não tinha quase ninguém no parquinho, naquela hora, só um velho que tem uma perna mais curta que a outra tava lá com o cachorro de pata torta. Ele vai todos os dias e a gente chama ele de Muleta, porque ele só anda de muleta. Mas a gente tem medo dele, porque ele briga com os moleques que querem jogar pedras no cachorro dele.

Eu achei que a gente ia aproveitar pra ir nos brinquedos, porque o sol ainda nem tava forte e não tinha ninguém nos brinquedos. Mas o Pilha foi direto pro canteiro. Tinha um monte de flor deitada, porque tem vezes que as crianças jogam a bola e cai ali e elas pisam nas florzinhas. E quando brincam de pega-pega, também correm ali por cima. Quando o Pilha começou a cuidar do canteiro pra branquela burra, as crianças pararam de correr por ali. Mas fazia um tempão que a gente não vinha no parquinho, e tinha um monte de flor pisoteada. O Pilha começou a arrumar elas.

— Pra que isso, Pilha?! Tu nem tá mais vendo a branquela. Pra quê tu vai fazer isso se ela até mentiu que não te conhece? 

— Eu não tô fazendo isso por ela, mané.

— Pra quem tu tá fazendo então?

O Pilha ficou um tempo em silêncio… só cavando a terra com a mão. Até que falou:

— … eu não sei. Só tô fazendo…

A gente continuou indo no parquinho. Mas agora, a gente ia cedo, antes do trabalho. O Pilha ficava arrumando o canteiro de flor e mal aproveitava os brinquedos, que estavam sempre vazios naquela hora, porque os filhos dos ricos estavam na escola. Depois, a gente ia pra nossa sinaleira. 

O Pilha nunca mais tinha falado na branquela burra. Já fazia uns vinte e onze dias, eu acho.

Daí, a gente tava sentado no meio fio, um de cada lado da rua, esperando o sinal fechar, e um carrão grandão assim, óh, veio diminuindo a velocidade, diminuindo, e quase parou bem perto do Pilha. Eu não consegui ver, porque tinha aqueles vidros escuros e o carro escondeu o Pilha. 

Quando o carro foi embora, o Pilha tava segurando uma florzinha com o galho quebrado. E tava com o sorriso mais bobo que já vi. 

(Continua no epílogo, semana que v



em…)


*Vide "Um Conto do Pilha"

Para ler Um Conto do Pilha, CLIQUE AQUI!


Luís Augusto Menna Barreto

17 de outubro de 2021

domingo, 10 de outubro de 2021

Eu, o Pilha e a Flor… (Ah!, tá bom: Eu, o Pilha e a Branquela Burra) - parte 2


Desde que a branquela burra apareceu no parquinho a primeira vez, o Pilha tá estranho. Agora só quer saber de ficar plantando flor no canteiro do parquinho. Antes, tinha dia que a gente ficava até tardão, noite mesmo, no nosso sinal. Ainda mais depois que os ricos* passaram a usar máscara.

Antes dessa doença das máscaras, a gente só ficava até a noite, se queria dinheiro pra comprar linha pra pandorga, ou pra comprar a cola pra gente sentir menos frio. Daí, com as máscaras, os ricos nem querem abaixar o vidro pra gente, porque a gente quase nunca tem máscara. Às vezes a gente acha alguma na rua, daí, tem uns que abrem e falam com a gente. Uns abrem só um pouquinho, e jogam a moeda pela festinha do vidro. Então, a gente precisa ficar até mais tarde pra conseguir os oito pilas, porque se eu não chegar com oito pilas no muro que a gente dorme, a mãe bate em mim. O Pilha sempre ficou comigo, até eu conseguir. Mas agora, com essa branquela burr…

— Clarinha!

— Branquela Burra!

— O nome dela é Clarinha, mané.

— Se nem a gente nem tem nome, Pilha, por que a branquela vai ter?

— Porque ela não é a gente. Porque rico tem nome, e o nome dela é Clarinha.

Fiz uma careta e imitei o Pilha:

— Clarinha… “escurinha” que não ia ser. A garota é branca igual fantasma.

— E tu já viu fantasma, mané?

No fim, a gente acaba sempre dando risada. Eu sei que o Pilha não gosta que eu fale da branquela, mas ele nunca briga comigo e a gente acaba sempre rindo.

Só que agora, o Pilha anda saindo todo dia mais cedo do sinal. Pergunta quanto eu tenho, olha o dinheiro dele e se manda. Teve dois dias que não consegui os oito pilas, mas daí, o Pilha completou pra mim. No último dia, eu até podia ficar mais e conseguir, mas eu tava brabo que o Pilha tava me deixando sozinho e saí, só pra ele ter que completar. Porque eu sei que ele não ia me deixar na mão. Ele sempre fala que eu tô devendo, que não é meu pai** pra ficar me dando as coisas. Mas ele nunca me cobra nada. 

O Pilha até pediu uma máscara pra tia Zélia, só pra ir lá no canteiro, perto das crianças, quando a Clarinha chega. A tia Zélia deu uma pra mim também, e disse que é pra gente ir sempre lá pegar máscara e tomar suco de groselha com ela. Mas eu não gosto de usar. E eu nem vou lá no canteiro de flor, mesmo! Eu fico sozinho na nossa árvore, enquanto o bobão do Pilha fica lá ensinando a branquela a plantar flor. Quando o Pilha tá perto dela, a cutucadora de celular da branquela, fica de olho. Acho que não gosta muito do Pilha.

Outro dia, com o sol bem forte, a gente tava no sinal, e o Pilha me perguntou quanto eu tinha. Já me acostumei.

— Já sei, tu já vai lá com a branquela, né Pilha?

— Bora logo, mané! Quanto tu tem?

— Não interessa. Vai lá com ela. Eu me viro, não precisa se preocupar. 

— Êêêêêê… para com isso, mané! Não quero que tu apanhe da tua mãe. 

— Vai embora, Pilha!

O Pilha ficou me olhando um tempo. Ele viu que eu tava brabo. Eu ainda não tinha nem 5 pilas. Daí, o Pilha fez o que quase sempre faz: sorriu com cara de bocó e falou:

— Então tá. Mas tô te esperando no parquinho!

Daí, apareceu um carrão dos ricos mais ricos. Grandão. A janela de trás tava aberta pela metade, e corri pra lá. Teve uma vez que um rico desses me deu um dinheiro de papel. Daquelas notas roxas. Eu acho as mais bonitas. Eu queria ver dentro do carro e coloquei as duas mãos em cima do vidro meio aberto pra pegar impulso e pular pra olhar lá dentro, porque é daqueles vidros escuros. Eu pulei, olhei pra dentro e só ouvi o grito:

— Mãe, tem um mendigo querendo assaltar a gente!

Claro que eu não queria assaltar. Eu só queria ver.

A Mulher dentro do carro deu um grito e o homem que tava dirigindo abriu a porta e pegou forte meu braço, me empurrando pra calçada. Ele ia sair do carro, ainda, e a porta foi empurrada com força, fechando e quase batendo no homem que tava dirigindo. 

A menina dentro do carro botou a cabeça na janela:

— Pilha?

Era a branquela burra. 

— Ele não é ladrão! É meu amigo! — O Pilha gritou pra pessoas do carro. Ele tinha voltado.

— Clara, tu conheces esses mendigos? — A mulher do lado da branquela perguntou. 

Ela olhou de novo pro Pilha. O Pilha sorriu aquele sorriso bocó, quando ela olhou pra ele.

— Claro que não, mamãe.

(Continua...)


* O Pilha e seu amiguinnho chamam de "ricos" todos os que não moram na rua. Vide por exemplo: "Eu, o Pilha e a Caixa Mágica.

Para ver Eu, o Pilha e a Caixa Mágica, CLIQUE AQUI!


** Vide Eu, o Pilha e os 35 Pilas

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Luís Augusto Menna Barreto

10 de outubro de 2021

sábado, 2 de outubro de 2021

Eu, o Pilha e a Flor… (Ah!, tá bom: Eu, o Pilha e a Branquela Burra) - parte 1

 Não é por causa dela. Tô nem aí, pra branquela! Eu não vou lá, porque não gosto de usar máscara. Não sou bandido. 

Antes, eu e o Pilha conseguia logo os oito pilas que a mãe manda eu ganhar todo dia, e a gente corria aqui pro parquinho e ficava um tempão. Quando o sol tava mais forte, a gente podia ir nos brinquedos, porque não tinha ninguém. O que eu mais gosto é o escorregador. O Pilha gosta mais do balanço. Ele sabe balançar bem alto, e aí ele se joga lá de cima! Depois, começam a chegar as crianças trazidas pelas cutucadas de celular. Elas trazem as crianças pela mão até os brinquedos, e depois sentam todas juntas mas nem conversam. Ficam só cutucando o celular. Mas elas não gostam de nós e, ficam nos enxotando de lá. O Pilha não tem medo de nenhuma delas, mas ele sai, porque ele diz que não gosta de ficar onde não gostam dele. No fim, a gente só consegue ficar na rua mesmo, porque tudo que é lugar que a gente tenta entrar, eles tocam a gente. Mas a gente gosta mesmo, é do muro da Tia Zélia. Ela sempre tem um bolinho de chuva e suco de groselha! O Pilha diz que é o melhor suco do mundo, e eu acredito nele, porque ele é muito sabido! Daí, quando chegam as cutucadoras, a gente acaba saindo pra nossa árvore. 

O Ranho* é um dos que sempre chega primeiro, daí fica brincando com uns carrinhos muito legais na areia. O Uálquim** é sempre um dos últimos, e fica pouco. E a cutucadora dele fica sempre mais esperta, porque é rapidinho que as outras crianças logo começam a jogar pedrinhas nele, só pra ele ficar virando de um lado para outro, daquele jeito diferente dele, sempre balançando pra frente e pra trás. Uma vez o Pilha se meteu e acabou com a brincadeira de jogar pedrinhas no Uálquim. Também, o Pilha fez tudo errado: a brincadeira era de jogar no Uálquim, mas ele acertou foi nas crianças que jogavam pedrinha no Uálquim. Então, ficou um tempão sem que as crianças fizessem de novo a brincadeira. Só não entendi porque o Pilha ficava sorrindo olhando pro Uálquim se tinha estragado a brincadeira dele. Agora, o Pilha resolveu virar jardineiro, eu acho. Até uma máscara que a gente achou na rua, ele tá colocando, já. Eu não coloco. Prefiro ficar aqui na nossa árvore. 

Outro dia, a gente tava aqui na nossa árvore, e chegou uma menina toda branquela e magricela com uma cutucadora de celular. Deve ser nova por aqui, porque a gente nunca via ela! E eu não sei o que deu no Pilha, que desde que ela chegou, só ficava cuidando ela de cima da árvore e nem falava direito comigo. Só dizia “um-rum” e “um-um”.

A branquela chegou com uma florzinha quebrada e foi com umas pazinhas de plástico para plantar a florzinha. Mas ela é muito burra, nem sabe fazer as coisas direito. Nesse dia, o Pilha quis ficar até tarde, esperou quase todas as cutucadas irem embora, só tava o Ranho lá. Daí, ele foi lá ver a flor que a branquela burra enterrou. Ele não disse nada, só olhou. Mas no outro dia, quando o sol tava fortão, e a gente ainda tava no meio do trabalho, ele disse que já tava indo pro parquinho!

— Ei, Pilha, tu tá doido? Nem consegui os 8 pilas ainda!

— Quanto tu tem, mané?

— Nem deu deu 6 ainda!

— Tenta mais um pouco só! Se tu não consegue, eu completo. Eu te espero no parquinho!

— Mas Pilha… 

Foi… desapareceu correndo! 

Eu consegui mais umas moedas. Não tinha dado 8 pilas ainda, mas eu tava curioso pra saber porque o Pilha tava com tanta pressa, e também fui pro parquinho. Quando eu cheguei, p Pilha já estava na árvore, lá naquele galho mais alto que só ele consegue subir!

— Ei, Pilha, por que tu…

— Sshhh…

— Que foi?

— Sshhhh…

Eu subi no meu galho e vi que a branquela burra tava chegando com a cutucada dela. Daí que vi que tinha uma flor bem bonita plantada no lugar que ela tinha deixado aquela flor quebrada. A branquela começou a dar pulinhos, apontar pra flor e chamar a cutucadora pra ver! O Pilha chegou a rir alto por isso. Que bocó. Não se pra quê sair correndo da nossa sinaleira, pra vim ver a flor dessa branquela. 

Então eu vi que as mãos dele estavam todas sujas de terra. 

(Fim da parte 1).


*Vide a aventura: “Eu, o Pilha e o Ranho”

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** Vide a aventura: “Eu, o Pilha e o Uálquim”

Para ler Eu, o Pilha e o Uálquim, CLIQUE AQUI



Luís Augusto Menna Barreto

2 de outubro de 2021