Conto Della
Decisões - parte 5
— Você sabe de tudo o que eu possa falar a respeito da mulher que tenho de impressionar. Não vou cometer o erro de subestimar você, contando coisas que você já sabe.
— Você não tem cometido muitos erros, pra dizer a verdade. E, sim, eu já sei a respeito da fusão das empresas. E sei por quem é dirigido o grupo europeu que pretende a fusão. E sei, evidentemente, que é uma mulher que vem ganhando o respeito no machista mundo dos negócios, o que exige dela muito mais talento e agressividade para que não estar à sombra de algum homem.
— Bem… a mulher que pretendo impressionar é considerada a “Miranda Priestly”* de seu ramo.
…
— Anda logo! Vamos perder a sessão!
O ano era 2006 e ela estava ansiosa demais para a pré-estréia de “O Diabo Veste Prada”. Ele, despreocupadamente, estava, ainda, colocando a roupa.
— Corre! Meu Deus! Como você demora!
— Calma. Temos muito tempo ainda. E você ja comprou os ingressos! Não sei porque tanta ansiedade por um filme que você já leu o livro uma mil vezes!
Ele saiu do quarto. Ela segurou um ataque de fúria:
— Nem sonhando você vai assim comigo no cinema para este filme!
Ele se olhou. Tudo normal: O tênis que sempre usava, a calça jeans desbotada, a camisa do clube de futebol.
— O que há de errado?
— Tudo! — Ela esbravejou. Demoraria demais brigar com ele. Ela estava ansiosa demais para perder o cinema ou arriscar-se a demorar brigando. Entrou no quarto, abriu com pressa as portas do guarda-roupas dele, pegou uma camiseta branca, básica, uma camisa xadrez vermelha, e um sapato estilo “dock side”. — Veste! Rápido!
Ele também optou por não discutir. Ela estava furiosa. O jeito desleixado dele a incomodava. haviam terminado a faculdade, já. Ela estava estudando para concursos públicos, na área do cerimonial. Ele passava o tempo todo na frente do computador. Aquilo a cansava demais: toda vez, ter de pedir para ele se arrumar melhor… Estava a ponto de explodir. Mas não seria hoje. Hoje, era a estréia do filme que ela mais esperara desde que se lembra de ter ido pela primeira vez em um cinema!
Ela ainda iria no cinema ver o filme mais oito vezes. Apenas duas com ele. As outras, sozinha, para poder observar cada detalhe.
…
Por um segundo, ela havia parado no tempo. Ele notara. Não a queria constrangida. Nem queria que ela percebesse que ele notou sua hesitação. Então, falou:
— A mulher é elegante e não deixa passar nenhum detalhe. E eu não posso errar na proposta. Preciso estar perfeito. Por isso, preciso de você. Preciso saber como me vestir sem deixar nenhum detalhe. Preciso saber como introduzir o assunto que preciso abordar, preciso saber o momento exato em que ela estará mais vulnerável à proposta… preciso saber a forma exata de propor.
— Você tem aparentado muita segurança, e, até agora, não tem cometido muito erros.
— Eu preciso estar perfeito. Impecável. Acho que não terei outra chance.
— E onde será a reunião?
— Não está marcado ainda. Ela deve sinalizar onde deseja que aconteça.
— Não! Tome você a iniciativa. Decida você onde vai ser e avise-a, surpreendendo-a. Se você conseguir que ela vá, você já terá a vantagem da iniciativa sobre a negociação, e, por conta de você ter proposto o local, ela estará curiosa em ouvi-lo, e você poderá tomar as rédeas das propostas.
Ele a olhou nos olhos. Ficou pensativo. Ela não conseguiu decifrar aquele olhar.
… mas ele pensava em como fazer a proposta.
* Miranda Priestly foi interpretada por Meryl Streep no filme homônimo da adaptação do livro “O Diabo Veste Prada de Lauren Weisberger, e era a elegante, poderosa, mas rigorosíssima editora chefe da principal revista de moda.
(Continua…)
Por Luís Augusto Menna Barreto