domingo, 29 de março de 2020

O MERCADOR ___3º ato: avareza___


Anteriormente nos dois primeiros atos de “O Mercador”
"Mercador: (para o público) Ah… de joelhos e implorando! A gula é-me tão útil! (Voltando ao Acidentado 2) Imploras?
Acidentado 2: (aos pés do Mercador) Imploro. Estou faminto. Dê-me a fruta e eu te darei qualquer coisa!
(Fim do 1º ato.)
Mercador: Veja… o preço que ele pagou foi muito alto.
Acidentado 1: Mas… mas eu… (bocejos) eu preciso… (cai de joelhos) Eu te imploro!
(Efeito sonoro e de luz, ilustrando o triunfo - O Mercador sorri)
(Fim do 2º ato)

_______3º ato: avareza_______

(Abre a cortina, o Acidentado 1, tal qual o acidentado 2, pende em uma espécie de cabide, com uma placa de “vendo ou troco”. Novamente, em off, o barulho do atendimento do acidente… sirenes, confusão… as luzes por trás das coxias, sugerem luzes de giroscópio. O Mercador atento às vozes em off, e o Ajudante chega com uma prancheta. Mercador examina os dados)
Mercador: este não será tão simples. Mas eu adoro um bom adversário!
(Barulho de descargas elétricas de desfibrilador”)
Voice off 1: Vamos… vamos! Reaja!
(Mais descargas… param as descargas. Barulho de lona)
Voice off 1: (Decepcionado) Perdemos mais um…
(Entra a Acidentada 3. As vestes - a alma - rasgadas e sujas).
O Mercador: Ora, seja bem-vinda. Chegaste no melhor momento do ano!
Acidentada 3: (Olhando desconfiada. Entra e examina as almas penduradas). Quanto está?
O Mercador: Um pechincha: Vinte e cinco mil dólares, apenas um dólar por dia, com a garantia de que viverá até os 70 anos de idade. Veja: 70 anos x 365 dias, são vinte e cinco mil, quinhentos e cinquenta dias! Há um desconto de quinhentos e cinquenta. Um excelente desconto, mais de vinte por cento!
Acidentada 3: (Sempre séria, sem mudar a expressão). Não vale isso. Nem perto! 
O Mercador: Mas veja, menos de um dolar por dia de vida! Uma pechincha! Não achará nada melhor que isso!
Acidentada 3: Tu não estás contando com o imponderável!
O Mercador: “Imponderável”?
Acidentada 3: Hospitais sem assepsia… isso se tiver a sorte de nascer em um hospital! O índice de mortalidade infantil é absurdo…
Mercador: Ora, mas posso providenciar para nasceres num hospital particular! Coloco-te em uma família em que os pais que terão plano de saúde! Terás a melhor equipe de maternidade, se escolheres uma dessas almas!
Acidentada 3: Ainda assim: muito suicídio infantil não divulgado, por bullyng. E os perigos para crianças: pervertidos, pais irresponsáveis com armas carregadas em casa, animais bravos, venenos guardados ao alcance das crianças. Morrendo antes dos 12 anos, seria muito prejuízo pagar uma alma ao preço de vida dos 70 anos!
Mercador: Vejamos… eu posso, então, fazer um preço especial: 18.000 dólares! 1 dólar por dia até 50 anos, e o que viver a mais, é brinde!
Acidentada 3: Não vale isso! Veja: está flácida (referindo-se à alma do ator gordo). Se resistir à infância, está sujeita a problemas cardíacos, diabetes, problemas ósseos… Não chegará aos 35!
Mercador: Ora, mas vejas esta outra: em forma. Sequer estava muito usada, era uma alma preguiçosa! Faço o mesmo preço: 18.000 dólares.
Acidentada 3: Não vale! Cada vez mais, o mundo está perigoso: guerras, desastres naturais… epidemias e pandemias…
(O Mercador não se contem e sorri)
Mercador: Obrigado… eu me esforço!
Acidentada 3: … enfim… viver é um risco muito grande. Nascemos para o sofrimento, não para realizações. Deveríamos receber, em vez de pagar por uma alma!
Mercador: (Fingindo pensar no assunto). Bem… Eu te farei uma irrecusável oferta, então: leve as duas almas, por 4.000 dólares! É o preço de uma alma, a um dólar por dia, até apenas os 12 anos! O que vier depois da infância, será brinde! E tu levas, ainda, uma alma de reserva!
Acidentada 3: (examinando as duas almas penduradas) Bem… ainda assim, acho que não vale. E ainda há mais um problema: tendo morrido, não estou com dinheiro! Preciso, aliás, voltar, para retomar o que é meu!
Mercador: Ora… mas, sem dinheiro, não posso deixar que leves! É meu negócio! Não tendo almas para negociar, não terei negócio para manter!
Acidentada 3: Mas eu preciso volta para recuperar minha fortuna!
Mercador: Eu entendo… mas lamentavelmente… (o Ajudante chega e fala no ouvido do Mercador)… Veja, acabo de receber a notícia que mais dois estão chegando! Se não tens o dinheiro, mesmo com todas as minhas ofertas, não poderei atende-lo!
Acidentada 3: (Em um arroubo de ansiedade) Eu troco a minha alma por estas duas!
Mercador: (pensativo) Não sei… veja… estão dois para chegar… se trocar as duas por uma… não poderei atende-los…
Acidentada 3: Eu te imploro! Preciso voltar pela minha fortuna! Eu te vendo minha alma, por estas duas!
Mercador: Imploras?
Acidentada 3: (Caindo de joelhos) Eu imploro! Minha alma, para poder voltar e recuperar minha fortuna!
(Efeito sonoro e de luzes. O Mercador ri alto. Vira-se para o público) As almas avarentas, sempre tem seu preço!
(Desce a cortina por breves instantes).

(Fim do segundo ato).

Por Luís Augusto Menna Barreto

28.3.2020


terça-feira, 24 de março de 2020

O Mercador - 2º ato: preguiça


Anteriormente em “O Mercador”
"Mercador: (para o público) Ah… de joelhos e implorando! A gula é-me tão útil! (Voltando ao Acidentado 2) Imploras?
Acidentado 2: (aos pés do Mercador) Imploro. Estou faminto. Dê-me a fruta e eu te darei qualquer coisa!
(Fim do 1º ato.)

_______2º ato: preguiça_______

(Abre a cortina, o Acidentado 2 pende em uma espécie de cabide, com uma placa de “preço a negociar”. O Acidentado 1 continua a revirar-se no desconfortável banco. O Ajudante entra com uma cama convidativa. O Mercador pega um confortável travesseiro e vai até o Acidentado 1. Alcança-lhe o travesseiro. O Acidentado 1 pega-o quase dormindo, ajeita-o sorrindo).
Mercador: Confortável?
Acidentado 1: Oh, melhorou bastante. Meu pescoço já começava a doer. 
Mercador: Eu fico muito feliz que estejas confortável, vejo que estás muito cansado, depois do terrível acidente.
Acidentado 1: Hum-hum… (concordando).
(Ajudante, disfarçado, aproxima-se do Mercador e finge discutir, apontando para o Acidentado 1 e fazendo sinal negativo. O Acidentado 1 olha algumas vezes e mostra alguma preocupação. Coloca o travesseiro por cima da cabeça, quando Mercador e Ajudante dirigem-se para ele).
Mercador: (dissimulado) Meu caro amigo… lastimo, mas parece que temos um problema…
Acidentado 1: (com o travesseiro na cabeça, movimentando-o de forma negativa) Não.
(Ajudante faz mais gestos e mostra impaciência).
Mercador: Como? O travesseiro? Ora, mas isso seria… diabólico! (efeito sonoro e com luzes, um feixe de luz vermelha sobre o mercador. O Acidentado 1 agarra com mais força o travesseiro sobre seu rosto). Senhor… mesmo lamentando profundamente, eu preciso pegar de volta este travesseiro… Já há um comprador para ele.
Acidentado 1: (afastando o travesseiro do rosto, mas ainda agarrando-o forte e tentando esconde-lo atrás de si) Comprador? Que comprador? Eu compro. Eu compro.
Mercador: (agora já começando a pegar o travesseiro) Eu lamento, mas veja: é deste senhor. 
Acidentado 1: Eu pago o dobro do que ele pagar! Eu preciso demais…
Mercador: Vou ver o que posso fazer!
(O Mercador vira-se para o Ajudante disfarçado, e finge negociar, apontando várias vezes para o Acidentado 1. O Mercador volta).
Acidentado 1: E então? 
Mercador: Eu fiz o que pude… lamento. Mas ele disse que paga três vezes mais… e, além disso… ele disse que precisa o travesseiro para deitar na sua cama…
Acidentado 1 (exasperado): Cama? Você disse cama? Eu… (bocejos) eu preciso de uma cama. Eu pago o que for preciso…
Mercador: Veja… o preço que ele pagou foi muito alto.
Acidentado 1: Mas… mas eu… (bocejos) eu preciso… (cai de joelhos) Eu te imploro!
(Efeito sonoro e de luz, ilustrando o triunfo - O Mercador sorri)
Mercador: (para o público) Ah… de joelhos e implorando! A preguiça é-me tão conveniente! Normalmente, a gula e a preguiça estão entre os mais simples de convencer a negociar comigo! (Voltando ao Acidentado 1) Imploras?
Acidentado 1: (aos pés do Mercador) Imploro. Eu  dou o que quiseres por aquela cama!
(Efeito sonoro e de luzes. O Mercador ri alto. O Ajudante, despindo o disfarce, leva o Acidentado 1 até a cama, entrega-lhe o travesseiro. O Acidentado 1 adormece.  Desce a cortina por breves instantes).

(Fim do segundo ato).

Por Luís Augusto Menna Barreto

24.3.2020

segunda-feira, 23 de março de 2020

O Mercador - 1º ato: gula


O Mercador
_______1º ato: gula_______

(O Mercador cuidando de seu estabelecimento. Impecavelmente vestido. Observa o ajudante varrer. Barulho: via movimentada com veículos rápidos. Depois buzina, freada, e o som terrível de um acidente com cacos de vidro, aço retorcido e gritos. Sirenes ao longe aproximando-se… Sirene mais alto. Portas de veículos sendo abertas e fechadas às pressas. Gemidos. O Mercador sorri, interessa-se pelo barulho! Vozes em off:)
(Voice off 1): Aqui tem dois, rápido…
(Voice off 2): … não, não há mais nada a ser feito. Traga a lona e cubra-os.
(Acidentado 1 off): ahhhh… so…corro…. Ahhh….
(Voice off 2): Ali, parecem vivos… ajude aqui.
(Barulho baixando…)
O Mercador: Rápido. Pegue a lista! 
(O ajudante volta com uma prancheta).
Ajudante: Aqui, senhor! 
O Mercador: Hummmm… Ótimo.  Será simples! Prepare a mesa para um, e o quarto para o outro… rápido!
Ajudante: Sim senhor! (sai apressado).
(Entram, dois acidentados).
Acidentado 1: (Bocejando) Onde estamos…? 
Acidentado 2 (o ator deve ser gordo): Senhor… onde estamos? O que aconteceu? 
Mercador: Nada que não seja natural. Não tenham medo, aproximem-se!
Acidentado 1: Que lugar é esse? (Esfregando os olhos com sono. Procura lugar pra sentar) Em um momento eu estava dormindo no ônibus e agora estou aqui… quase dormindo… Onde estou?
Mercador: Meu humilde comércio…
Acidentado 2: Comércio? O que vendes?
Mercador: Não apenas vendo… eu principalmente compro e troco, também. Venham, entrem… o primeiro passo é sempre muito importante.
Acidentado 2: Mas o que vendes?
(Entra o Ajudante, trazendo o carrinho de frutas o Acidentado 1, senta-se em um desconfortável banco, e tenta pegar no sono).
Acidentado 2: (arregalando os olhos e lambendo os lábios ao olhar o carrinho) Comida! Vendes frutas?
Mercador: Óh, negocio-as, na verdade! Veja esta, que deliciosa… 
(Acidentado 2 tenta pegar, e o Mercador sutilmente desvia e impede, abraçando-o com a mão por sobre seus ombros e mantendo a fruta longe com o braço esticado).
Acidentado 2: (tentando pegar a fruta) Eu quero. Eu preciso… estou com fome.
Mercador: Mas veja… é muito difícil encontrar frutas por aqui… porém, como vejo que aprecias, posso fazer um preço especial…
Acidentado 2: Eu quero… eu PRECISO! Dá-me… (tentando agarrar a fruta).
Mercador: As frutas aqui, são raras… eu posso vendê-la!
Acidentado 2: … eu quero…
Mercador: Será sua… por apenas cinquenta mil dólares!
Acidentado 2: O quê? Eu… eu não tenho! O preço é ridículo É impossível alguém pagar tão caro por uma fruta… eu preciso. Eu preciso dessa fruta! 
Mercador: Bem, meu caro amigo… é muito difícil trazer frutas até aqui… Por isso é tão caro…!
Acidentado 2: Mas… mas eu… eu preciso… (cai de joelhos) Eu te imploro!
(Efeito sonoro e de luz, ilustrando o triunfo - O Mercador sorri)
Mercador: (para o público) Ah… de joelhos e implorando! A gula é-me tão útil! (Voltando ao Acidentado 2) Imploras?
Acidentado 2: (aos pés do Mercador) Imploro. Estou faminto. Dê-me a fruta e eu te darei qualquer coisa!
(Efeito sonoro e de luzes. O Mercador ri alto. O Ajudante pega a fruta, o carro das frutas e o Acidentado 2 pela mão, e o retira.  Desce a cortina por breves instantes).

(Fim do primeiro ato - continua).


Por Luís Augusto Menna Barreto
23.3.2020

domingo, 8 de março de 2020

A Morte do Ateu - parte 4 - ... o fim!


Anteriormente em “A Morte do Ateu”
"— (…) Não há nada depois!
— E o que tu vês agora?”
(…)
— Se estiveres certo, tu estás no nada, e eu não sou.
— Não és o quê?
— Diga-me ateu: o que tu negavas?”
(…)
— Afirmas o nada, mas sentes; nega-me, mas pensa-me. Dize-me tu, ateu: o que sou?

_______parte 4 - o fim_______

— És a fábula dos covardes, o reflexo do medo do vazio. És a invenção dos desesperados…
— Quem são os desesperados?
— Ora, todos os que tem fé! Os covardes que enganam a si mesmos, criando-te em suas mentes, apenas para não enfrentar a verdade do vazio! 
— E tu, ateu? Quais eram tuas esperanças?
— Minhas esperanças? Ora, não sejas tolo! Eu não tenho esperanças. Nunca as tive.
— O que são esperanças, ateu?
— Tu o sabes! Porque me perguntas?
— Porque se me negas, eu não sou! Eu sequer existo, como posso ter respostas que não estejam em ti?
— Ah!, vá lá, se queres estes jogos: esperança é expectativa, é aquilo que se deseja, é o que se espera.
— Dizes, então, que sou a esperança dos que tem fé? O que é o desespero, ateu?
— É… bem, é a falta de esperança… é não as ter.
— Então, quem é o desesperado? 
— … é…
— … Os que esperam em mim, ou os que me negam?
— Pare com isso! Estás usando ardil para confundir-me! Eles são desesperados! Não eu! Eu estou certo! Nada existe!
— Com quem falas, ateu? A quem gritas?
— Eu… eu…
— Não sabes, ateu? No fundo do teu coração, não sabes? 
— Pare… não vou deixar confundir-me… pare…
— A quem tantas vezes levantaste os olhos e escapava-te “meu Deus”, ao sinal de perigo? A quem rezaste em teu íntimo, sem admitir, ao ver teus próximos jazendo doentes? Por quem clamaste cada vez que, sarcástico, dizias “sou ateu, graças à Deus”? 
— Pare… por favor, pare…
— O que estás vendo agora, ateu?
— … como…? Como? De onde vieram…? Para onde vão…? São… são almas!?
— Por que olhas aflito à multidão que agora vês? Procuras alguém, ateu? A mãe que perdeste criança? O pai que não conheceste? Quem pensas que foi a mão que te ofereceu as escolhas quando oravas a mim, sem saber?
— Eu… eu vejo… esse portão…! Agora vejo… de onde saiu tudo isso?
— Se tu vês, sempre esteve aqui!
— O que é esse portão?
— É onde te apresentarás.
— O que acontecerá?
— Serás julgado!
— Por quem?
— Por quem sempre acreditaste, negando-o.
— Mas… não posso ser julgado Não me deixarão entrar… serei condenado! Sempre te neguei! Nunca me permiti acreditar… 
— Entrarás, se conseguires perdão…
— Mas como conseguirei? Tu me perdoarás? 
— Não sou eu quem tem de perdoar-te para que passes pelo portão!
— … quem?
— Diga-me, ateu: tu te perdoas?

... o fim!

Luís Augusto Menna Barreto

8.3.2020



A Morte do Ateu - parte 4 - ... o nada...


Anteriormente em “A Morte do Ateu”
"— (…) Não há nada depois!
— E o que tu vês agora?”
(…)
— Se estiveres certo, tu estás no nada, e eu não sou.
— Não és o quê?
— Diga-me ateu: o que tu negavas?”
(…)
— Afirmas o nada, mas sentes; nega-me, mas pensa-me. Dize-me tu, ateu: o que sou?

_______parte 4 - o nada_______

— És a fábula dos covardes, o reflexo do medo do vazio. És a invenção dos desesperados…
— Quem são os desesperados, ateu?
— Todos os que precisam de ti: enganam a si mesmos, criando-te, para que a vida tenha algum sentido, signifique algo. Não se conformam em a vida bastar-se em si mesma, não haver além.
— Tu não és um desesperado?
— Ora, que pergunta! Depois do tanto que conversamos, já não te está claro que não sou?
— E o que esperas, ateu?
— Nada! Apenas o nada, que sempre acreditei que haveria. 
— Mas vejas, ateu: se eles tem a esperança, e tu nada esperas, não és, pois, tu o desesperado, e eles os esperançosos?
— Que esperança eles poderiam ter?
— De serem julgados. De serem perdoados.
— Por quem?
— Por mim.
— Mas tu não existes! E nenhum julgamento há de ser feito! Eu mesmo me julguei o tempo todo! Vivi de acordo com meu código de conduta, com minha definição de moral. Eu fui julgado e julgador de mim mesmo, e sempre pronunciei minhas sentenças de acordo com as verdades que acredito!
— E no que acreditas, ateu…?
— Pela ultima vez… em nada!
— Então, ateu, se em nada acreditas, eu também sou nada. 
— Admites então? Vês? Eu venci! Eu estava certo!
— … ei… OLÁAAAA… onde estás? … 
— …que frio… onde estás…? Volta… 
… 
— … volta… vol…………………………………..
… … 
(… o nada…)

Por Luís Augusto Menna Barreto

8.3.2020