O TEATRO
Parte 3 - suspense
O cartaz do terceiro dia, dizia “suspense”. Já não tava tão cheio… havia algumas cadeiras vazias… e ficou muito difícil convencer a vó a me deixar ir. Eu fiz toda a tarefa da escola, comi toda a comida do prato, não arrotei na mesa, não fiquei correndo pela casa, e até arrumei minha cama (a vó foi lá e arrumou de novo, quando eu não tava vendo, mas ela nem me disse nada). Depois disso tudo, ela deixou eu ir. Mas disse que não ia me dar dinheiro, porque eu já tinha ido no circo dois dias, e que não ia ter nada diferente.
Eu sabia que não adiantava insistir. E nem ia adiantar explicar que teatro era diferente de circo. Mas eu tinha que conseguir o dinheiro!
Daí eu fui correndo pro Juca, porque às vezes a gente conseguia dinheiro vendendo garrafas pras bancas de cachaça da rodoviária e vendendo jornal velho pro armazém São Luiz. O problema era que eu e o Juca já tínhamos catado todo o jornal velho da vizinhança pra vender na semana passada, ninguém tinha mais jornal velho guardado pra dar pra gente. E garrafa é mais difícil, porque o pessoal usa pra trocar no supermercado quando compra garrafa cheia.
— Vamos cortar grama!
— Como? A gente nunca cortou, Juca. E a gente nem tem máquina.
— É fácil. E o vô tem uma máquina daquelas de empurrar, sem motor.
Daí, nós fomos. Só carregar a máquina em cima do carrinho de mão de madeira que o Juca arrumou com o pai dele na construção que o pai dele tava trabalhando já era pesado e um trabalhão. Quando conseguimos finalmente, um quintal pra cortar, antes da metade, a gente já tava morto de cansado e a grama tava horrível. O dono chegou e brigou com a gente. Passamos toda a tarde tentando terminar e nem ficou muito bom. Daí o dono da casa só nos pagou a metade. Mas dava justamente as duas entradas, porque a gente só paga meia entrada!
Daí, quando a gente terminou, devolveu a máquina e o carrinho de mão, só deu tempo de tomar banho correndo, e ir pra praça. Eu queria estar lá quando a Luísa chegasse.
E eu vi quando ela apareceu vindo por trás da igreja, na direção da praça. Ela vinha pulando na frente da mãe dela. Eu meio que me escondi, porque queria ficar só olhando e entrar assim que ela entrasse na parte do teatro. Mas daí, lá veio o gosmento do Conrado e falou com ela e a mãe dela, e a Luísa saiu com ele pra barraca de algodão doce. E eu vi o Conrado pagando um pra Luísa.
— Ihhh. Olha lá o “Sabão”. E agora? O que você vai fazer?
— Não sei, Juca… não tenho dinheiro pra comprar um doce pra ela como o metido do "Sabão".
— Tem sim…!
O Juca estendeu a mão dele sorrindo, com o dinheiro do ingresso dele.
—… e eu nem sei o que é “suspense”, mesmo! Amanhã você me conta como foi. Vai lá recuperar sua garota.
Por Luís Augusto Menna Barreto